A China sinalizou nesta segunda-feira (9) que irá avançar em seu pacote de estímulos econômicos a partir do ano que vem, enquanto Pequim se prepara para uma guerra comercial quando Donald Trump assumir o cargo.
O Politburo, órgão que reúne a nata do Partido Comunista Chinês (PCC) e é responsável pelas decisões mais estratégicas do Estado, afirmou que irá indicar ao presidente Xi Jinping uma política monetária “moderadamente flexível” em 2025, de acordo com a agência oficial de notícias Xinhua, sinalizando mais cortes nas taxas no futuro e mudando uma estratégia “prudente” mantida por quase 14 anos.
O grupo também prometeu uma política fiscal “mais proativa” em sua reunião mensal, aumentando as expectativas de que Pequim amplie o déficit fiscal. Isso abriria a porta para mais empréstimos do governo central para sustentar a economia vacilante.
A reunião de dezembro do Politburo “enviou o tom de estímulo mais agressivo em uma década”, escreveram economistas do Morgan Stanley, incluindo Robin Xing, em uma nota de pesquisa, acrescentando que “embora o tom seja muito positivo, a implementação permanece incerta”.
O Politburo também prometeu impulsionar o consumo, estabilizar os mercados imobiliário e de ações e, pela primeira vez, prometeu ajustes políticos anticíclicos “extraordinários” — o Partido Comunista fala em ferramentas mais incomuns para impulsionar a economia.
Ao indicar maior foco no consumo e estabilização do mercado imobiliário, as medidas poderão gerar um efeito positivo para as commodities brasileiras — minério de ferro, soja e carnes — uma vez que a China é a maior consumidora dos principais itens de exportação do Brasil.
“A formulação desta declaração da reunião do Politburo não tem precedentes”, disse Zhaopeng Xing, estrategista sênior do Australia & New Zealand Banking Group. “O tom da política mostra forte confiança contra as ameaças de Trump”, ele observou, referindo-se à promessa do presidente eleito dos EUA de impor uma tarifa de 60% sobre as exportações chinesas que dizimariam o comércio bilateral.
Mudança de política
A última vez que a China adotou uma política monetária “moderadamente frouxa” foi na Crise Financeira Global de 2008, como parte de um pacote de estímulo bazuca para sustentar a economia. Isso é algo que Pequim prometeu evitar repetir.
Mas o comunicado do Politburo, no entanto, enviou aos mercados uma mensagem de que Xi está sentindo uma nova urgência em apoiar o crescimento. É um lembrete de que “a visão dos principais líderes sobre as condições econômicas mudou substancialmente em comparação ao último trimestre”, disse Martin Rasmussen, estrategista sênior da empresa de pesquisa macro Exante Data.
Após o crescimento do segundo trimestre ter ficado aquém, as autoridades começaram a implementar estímulos no final de setembro. Economistas esperam amplamente outro corte no compulsório dos bancos até o fim do ano, enquanto um ajuste de taxa de juros tem mais probabilidade de ocorrer no primeiro trimestre de 2025.
Os formuladores de políticas também precisarão encontrar remédios para a mais longa sequência de deflação da China neste século. Esse problema foi exibido mais cedo na segunda-feira em dados mostrando os preços ao produtor caindo em novembro pelo 26º mês consecutivo. Os preços ao consumidor também subiram no ritmo mais lento em cinco meses, pairando em torno de zero.
A queda dos preços prejudicou o crescimento de 4,8% da economia até agora neste ano, corroendo os lucros corporativos e forçando as empresas a cortar investimentos, bem como salários. Enquanto o Banco Popular da China cortou as taxas de juros e ofereceu mais dinheiro para os bancos várias vezes, as autoridades acharam difícil estimular maiores gastos.
O Politburo prometeu “aumentar o consumo à força” e impulsionar a demanda doméstica “em todos os aspectos”, sem mencionar diretamente a deflação. Isso pode indicar mais rodadas do programa de dinheiro por sucata que é operado como um vale-consumo, encorajando as pessoas a comprar novos eletrônicos com desconto em troca de seus produtos antigos.
Efeito no Brasil
Na onda dos anúncios da China, os contratos futuros do minério de ferro se recuperaram nesta segunda-feira, encerrando uma trajetória de duas sessões de queda. Ao meio-dia, havia quatro mineradoras e siderúrgicas brasileiras entre as maiores altas do Ibovespa: CSN avançava 5,56%; CSN Mineração, 5,34%; Usiminas, 3,68%; e Vale, 3,19%.
O contrato de janeiro do minério de ferro mais negociado na Bolsa de Mercadorias de Dalian (DCE) da China encerrou as negociações do dia com alta de 1,57%, a 808,5 iuanes (US$ 111,12) a tonelada.
O minério de ferro de referência para janeiro na Bolsa de Cingapura subiu 1,05%, a US$ 104,4 a tonelada.
Os preços do minério de ferro ficaram sustentados acima de US$ 100 por tonelada devido às expectativas de mais anúncios de estímulo da Conferência Central de Trabalho Econômico de Pequim, programada para 11 e 12 de dezembro, disseram os analistas do Westpac.
“As recentes medidas de estímulo chinesas reanimaram a demanda por aço e, portanto, por minério de ferro, já que as vendas de imóveis estão mostrando alguns sinais de melhora”, disseram os analistas do ANZ.
Os estoques do ingrediente de fabricação de aço caíram na semana passada para o nível mais baixo desde agosto, disseram eles.
Fonte: investnews