O Brasil está entre os países com os maiores déficits nominais do mundo, conforme aponta um estudo recente do banco BTG Pactual. O levantamento revela que o cenário para os próximos anos é preocupante, com previsões de agravamento da dívida pública e desafios adicionais à gestão fiscal.
De acordo com o relatório, o déficit nominal brasileiro deve atingir 7,8% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2024 e 8,6% em 2025, posicionando o país em uma situação desfavorável em comparação a outras economias globais, tanto emergentes quanto desenvolvidas.
O Que é o Déficit Nominal?
O déficit nominal representa a diferença entre todas as receitas, incluindo aplicações financeiras, e as despesas totais, que englobam os juros da dívida. Quando as receitas superam as despesas, ocorre um superávit nominal. Entretanto, o Brasil tem enfrentado um cenário em que as despesas superam amplamente as receitas, resultando em um déficit nominal elevado.
Em termos comparativos, apenas a Bolívia apresenta um déficit nominal pior do que o do Brasil entre as principais economias emergentes e desenvolvidas. Mesmo países como China e Estados Unidos, com economias de dimensões muito maiores, apresentam resultados menos alarmantes.
Impactos do Déficit no Cenário Nacional
Endividamento em Escalada
O BTG Pactual projeta que a dívida bruta brasileira continuará em crescimento nos próximos anos, alcançando 86% do PIB até o final de 2026. Esse avanço representa um aumento significativo de 14 pontos percentuais em relação aos níveis atuais.
A crescente dívida pública tem impacto direto na atratividade do país para investidores. Com riscos de descontrole fiscal, investidores exigem juros mais altos como recompensa pelo risco adicional, o que torna o financiamento da dívida mais oneroso para o governo.
O Papel da Taxa de Juros
A taxa básica de juros, a Selic, desempenha um papel crucial nesse cenário. Quando a Selic sobe, o custo da dívida também aumenta, ampliando ainda mais o déficit nominal. Esse ciclo vicioso se intensifica pela percepção de risco dos investidores, que enxergam o Brasil como uma economia com dinâmica fiscal desafiadora e vulnerável a crises.
Cenário Fiscal e as Regras do Arcabouço Fiscal
Resultado Primário e a Meta de Déficit Zero
Em 2023, foi aprovado um novo conjunto de normas para o controle das contas públicas: o arcabouço fiscal. O objetivo é equilibrar as contas do governo, gerando superávits primários ao longo do tempo. O superávit primário ocorre quando as receitas com impostos e tributos superam as despesas governamentais, desconsiderando o pagamento de juros da dívida.
O BTG Pactual estima que o governo central cumprá a meta de déficit zero em 2024. Isso será possível graças a receitas extraordinárias e a um crescimento econômico previsto acima de 3,5%. No entanto, o cenário de 2025 apresenta incertezas consideráveis.
Desafios para 2025
O estudo do BTG destaca que, para o equilíbrio fiscal em 2025, será necessário um rigoroso pente-fino nas despesas públicas, além da geração de receitas adicionais. A projeção é de um déficit primário de R$ 100 bilhões, considerando despesas com precatórios e outros compromissos. Contudo, há incerteza quanto à aprovação de novos impostos e adesão do setor privado às medidas planejadas.
Reflexos na Economia Brasileira
Desvalorização do Real
Outro efeito direto do cenário fiscal é a desvalorização do real em relação ao dólar. Em 2024, a moeda americana superou os R$ 6, e há previsão de que se mantenha em patamares elevados. Um real desvalorizado encarece produtos importados, pressiona a inflação e reduz o poder de compra da população.
Confiança dos Investidores
A percepção de instabilidade fiscal também afeta a confiança dos investidores. Com uma economia mais arriscada, o Brasil se torna menos atrativo para a entrada de capital estrangeiro, o que limita o crescimento econômico e dificulta a geração de empregos.
Considerações Finais
O cenário fiscal brasileiro exige medidas concretas e efetivas para conter o avanço do déficit nominal e da dívida pública. A implementação das regras do arcabouço fiscal é um passo importante, mas insuficiente diante da magnitude dos desafios. Será necessário um compromisso coletivo entre governo, Congresso e sociedade para garantir a sustentabilidade econômica do país.
Fonte: seucreditodigital